Mudança e adaptação: primeiros passos

Um dos motivos que me fez criar o Viagens de Mãe foi dividir com outras pessoas nossas experiências fora do Brasil. Especialmente para ajudar quem está passando por situações semelhantes. Adoro compartilhar por aqui nossas viagens pelo mundo, mas um dos objetivos principais do blog é ajudar outras famílias nesse duro processo de mudança e adaptação em outro país.

Pensando nisso, vou começar uma série de posts sobre esse tema: mudança e adaptação. Já estamos há um ano na Alemanha, Giovanna já passou por adaptação na creche e logo começará o Kindergarten (o Jardim da Infância aqui na Alemanha). Mas antes de fazer os posts sobre essa experiência bilíngue – que acho importantíssima e de grande ajuda pra quem se muda de país – vou contar um pouco sobre nossa vinda pra cá. Mais precisamente sobre como foi a mudança para a Giovanna e as medidas que adotamos durante esse processo.

Mudança para Suíça

A mudança da Suíça para a Alemanha foi completamente diferente de quando viemos do Brasil para a Suíça. Em diversos aspectos. Da primeira vez, não trouxemos mudança. Viemos cada um com duas malas de 32 kg para começar tudo de novo. Tá aí uma dica valiosa pra quem está saindo do Brasil pela primeira vez: nem sempre compensa trazer mudança. E por que não?

Primeiro porque o valor que se paga pra transportar tudo é alto. Com esse valor, você monta uma casa novinha por aqui. Claro, comprando coisas mais baratas em lojas como o Ikea ou até mesmo coisas usadas. Por aqui, o mercado de usados é muito comum e confiável. Quem vem por empresas, por exemplo, pode verificar se tem alguma família de mudança se desfazendo de móveis e afins e comprar deles por um preço bem bacana.

Segundo porque muitos eletrodomésticos não são compatíveis, não vão funcionar por aqui. Outro detalhe é que muitas casas/apartamentos aqui na Europa já têm a cozinha montada. E aí você faz o que com geladeira e fogão que trouxe do Brasil? Conheço gente que teve que deixar no porão ou, pior ainda, se desfez por aqui. Se é pra se desfazer, melhor no Brasil, onde é mais fácil doar ou deixar com familiares (foi o que fizemos).

Documentação

Quando nos mudamos para a Suíça, saímos do Brasil com todos os documentos prontos: visto de trabalho pro marido e o meu de agrupamento familiar. É muito importante para a tranquilidade da mudança ter todos os documentos certinhos. Quando viemos para a Alemanha, nossa documentação atrasou e só marido se mudou com visto. Giovanna e eu demos entrada só depois da mudança e ainda esperamos pelo visto durante os 3 primeiros meses. Mesmo sendo essa uma medida legal e tendo toda a assessoria da empresa que ele trabalha, ficamos um pouco tensos com esse tempo, mas no fim deu tudo certo e logo estávamos todos com os documentos em dia.

Meu conselho: esteja sempre bem assessorado pra essa parte da documentação, pesquise e registre tudo para não passar perrengue. Nós estivemos inúmeras vezes no consulado alemão na Suíça para fazermos tudo dentro da legalidade.

A mudança para a Alemanha

Sem dúvida alguma, a principal diferença dessa mudança está no fato de que, dessa vez, não estávamos sozinhos. Mudar com filhos é bem diferente de uma mudança individual ou a dois. Sempre digo que foi muito mais fácil mudar pra Suíça. Éramos só nós dois e 4 malas cheias de roupas, sonhos e projetos. Da Suíça para a Alemanha, trouxemos mudança e tínhamos um pacotinho especial: Giovanna.

Móveis embalados para mudança.

Parte da nossa casa embalada para a mudança.

Minha primeira preocupação foi o momento de embalarem tudo lá na Suíça. Contei com uma amiga anjo da guarda que ficou com a Giovanna enquanto acompanhei a equipe que empacotou todos os nossos pertences. Nossa mudança foi toda custeada pela firma que maridón trabalha, que contratou uma empresa especializada em mudanças. Nós não tivemos que fazer nada, a não ser preencher papéis e arrumar as malas que ficariam com a gente no período de aproximadamente 3 meses. Vou falar mais sobre isso mais adiante.

Para quem quiser saber mais um pouco sobre essa parte da mudança que diz respeito à casa e à parte de embalagem, temos alguns vídeos lá no nosso canal do Youtube mostrando tudo (filmei boa parte da nossa mudança e coloquei lá). E tenho também um outro texto falando sobre as primeiras impressões da nossa vida alemã, onde conto um pouquinho sobre a burocracia da mudança e aluguel de casas.

Mudar com filhos

Toda mudança gera preocupação e inúmeros anseios. Mas quem muda com filhos tem tudo isso elevado ao cubo. Recebo muitas perguntas sobre como foi a mudança para a Giovanna, como ela se adaptou à língua. Muitas famílias pensando em mudar de país me escrevem preocupadas em como isso vai ser para os filhos, especialmente a adaptação. Falaremos da questão da língua em outro post, mas vou colocar aqui o que fizemos com a Giovanna durante o processo de mudança para que ela não estranhasse tanto.

Quando me perguntam sobre como a Giovanna reagiu durante o processo de mudança, sempre respondo que foi tranquilo, que ela é uma menina muito especial e não deu trabalho em momento algum, o que é a mais pura verdade. Mas pensando no assunto, percebo que além da personalidade dela, alguns pontos ajudaram na tranquilidade desse processo. Vamos a eles:

1) Preparação e participação

Eis um ponto importantíssimo: preparar a criança para o que vai acontecer. Dizer que vocês irão se mudar, narrar algumas etapas e fazer com que a criança participe delas de alguma forma.

Giovanna no Ikea da Alemanha.

Giovanna no Ikea em uma de nossas idas para comprar coisas para a casa nova.

Comecei dizendo a ela, muitos dias antes, que iríamos nos mudar de casinha. Falei que os brinquedos dela, o quarto, assim como o meu, tudo seria embalado para depois ir para nossa nova casa e que, por um período, nós ficaríamos sem nossas coisas. Passaríamos um tempo em uma casa que não seria a nossa, só até tudo se ajeitar. Mas que estaríamos sempre juntas nesse período.

No entanto, separei alguns brinquedos que ela gostava muito para ficar conosco nas malas e ser alguma referência ao nosso lar enquanto estivéssemos pingando entre hotel e apartamentos temporários. Nesse processo, pedi que ela escolhesse os brinquedos que gostaria que estivessem sempre com ela (olha a participação aqui). Ao nos instalarmos nos apartamentos provisórios que vivemos (foram 2 em 3 meses), separava um cantinho da sala para os brinquedos dela. Assim como ela tinha em nossa casa. Acredito que isso fazia com que ela se sentisse um pouco em casa.

2) Apresente os ambientes

Antes da Giovanna nascer, como a maioria das mamães, li muito sobre maternar, sobre a mudança que é a chegada de uma criança na casa. Lembro-me de ler em algum lugar sobre chegar da maternidade e apresentar a casa ao bebê. Isso mesmo: falar pro seu recém-nascido, ali no seu colo, o que é cada parte da casa. Mostrar onde ele vai dormir, o berço, os detalhes do quarto dele. Mostrar onde ele vai viver, cada cantinho importante da casa.

Fiz isso quando voltei da maternidade e mantenho essa apresentação sempre que viajamos. Mostro o hotel, falo pra ela que aquele lugar irá nos acolher nos próximos dias. Mostro o berço/cama onde ela vai dormir, o banheiro, cada canto do quarto do hotel. Adotei portanto essa medida nas nossas moradias temporárias. E, coincidência ou não, ela nunca estranhou nenhum desses ambientes.

Uma semana no hotel durante a mudança.

Olha aí a preocupação da Giovanna na cama do hotel da Suíça rsrs

3) Mantenha uma rotina sem surtar

Uma outra coisa que aprendi nas minhas leituras de mãe é que criança gosta de rotina. Seguir um padrão, uma sequência de ações, deixa a criança mais segura. Desde bebês. Coloquei esse ensinamento na prática aqui em casa e sempre procuro seguir um padrão. Um exemplo de sucesso por aqui é o ritual da hora de dormir. Giovanna se acostumou a tomar banho e dormir. É a dobradinha da noite que ela já sabe desde pititica.

Mas manter uma rotina não é tarefa fácil, especialmente num processo de mudança. Aliás, sou da teoria que a rotina é uma excelente aliada, mas precisamos ser flexíveis a ela, senão a gente surta. Pode parecer contraditório, mas aqui deu super certo. Temos uma rotina, mas quando precisamos sair dela, não surtamos. Apenas adotamos uma prática simples: conversar. Sempre falo com a Giovanna o que vamos fazer, quais serão os próximos passos. Com a maior tranquilidade e buscando transmitir a ela o máximo de segurança. E isso, durante a mudança, foi primordial.

Outra dica que acho importante mencionar: não faça alterações bruscas na rotina da criança durante a mudança. O desmame, o desfralde, tirar a chupeta, tudo isso pode esperar um momento menos turbulento. Se nós, quando passamos por mudança, já tempos alguns baques, imagine uma criança. Então não tem porque fazer outra alteração significativa na vidinha dela naquele momento. Espere as coisas se estabilizarem e, aí sim, inicie o processo necessário para aquela fase. Adiei o desfralde da Giovanna por quase um ano devido a nossa mudança e não me arrependo de forma alguma.

4) Explore as novidades

Essa é uma dica que completa aquela de incluir a criança no processo da mudança e permitir que ela participe. Visitar as casas, ir ao supermercado, conhecer a escola e o bairro. Faça disso um processo divertido para a família e vivam juntos esses momentos explorando o lado positivo das novidades.

Quando saíamos para visitar nossas possíveis casas, Giovanna sempre estava junto e eu sempre dizia a ela que íamos ver nossa possível “casinha”. Ela hoje se refere à nossa casa dessa forma: “nossa casinha”. E embora a decisão do novo lar coubesse a mim e a meu marido, sempre perguntávamos pra ela se ela gostou da casa e observávamos como ela se comportava nos ambientes.

Aproveite também para explorar os lugares da nova cidade ou país. Na Alemanha, nossa diversão era conhecer os parques e parquinhos dos bairros em que estávamos hospedados. Diversão garantida e momentos de descontração em meio às tensões que uma mudança desse nível proporciona. Aproveitar a situação de mudança para passar mais tempo com seu filho é uma maneira de deixar as coisas mais leves e divertidas.

Parquinho na Alemanha

Giovanna explorando um dos parquinhos do primeiro bairro que moramos na Alemanha.

5) Divida seus anseios

Não tenha medo de falar para seu filho que você também está ansioso(a) com todas as transformações que uma mudança traz. Isso não vai torná-lo fraco como pai ou mãe e ainda vai aproximá-lo de seu filho. Divida com ele seus anseios e permita que ele fale sobre os anseios dele (adolescentes especialmente tendem a ficar chateados por deixarem os amigos, por exemplo).

Como disse, conversar com a criança, dizer a ela o que vai acontecer transmitindo tranquilidade e segurança é fundamental durante um processo de mudança. Mas isso não impede de falarmos também das nossas angústias, dos medos e anseios que também nos cercam. É preciso transmitir serenidade aos nossos filhos, porém não é errado mostrarmos nosso lado humano que também se assusta diante do novo.

Não vou dizer que esses itens formam uma receita para realizar uma mudança com crianças. Isso foi o que fizemos e funcionou muito bem pra nós. Sobrevivemos aos desafios de mudar de país e permanecermos por 4 meses temporariamente instalados.

E eu que tinha medo de como a Giovanna ficaria durante a mudança, fiquei foi surpresa do quanto ela tirou de letra todo esse processo e ainda tornou tudo mais fácil. Afinal, mesmo com todas as dificuldades e desafios, aproveitamos muito cada momento novo que chegava. E assim continuamos: juntos, em família, buscando levar a vida de forma mais leve e descomplicada.

Ficou alguma dúvida? Deixe aqui nos comentários que será um prazer se eu puder ajudar de alguma forma. Se quiser que a gente aborde algum tema específico sobre a mudança, comenta aí também com sua sugestão que isso nos ajuda a manter o blog ainda mais interessante e a atingir nosso principal objetivo: ajudar pessoas que estejam passando por aquilo que já passamos. Obrigada e até a próxima!

 

 

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *