Vida Alemã: algumas impressões iniciais

O segundo texto sobre minha vida na Alemanha pode gerar alguma polêmica. Então já quero avisar que não tenho intenção nenhuma de ofender ninguém, seja quem mora na Alemanha há mais tempo, seja quem tem decendência alemã. Aqui são só algumas impressões baseadas em alguns acontecimentos e vivências. Só isso. Dividir minhas experiências é o intuito desse blog. Mesmo assim, postei e saí correndo! rsrs

Antes de mais nada, quero deixar claro que sou contra estereotipar qualquer característica cultural. Assim como nós brasileiros não gostamos de sermos conhecidos apenas pelo futebol e carnaval, tenho certeza que outros povos não gostam de ser taxados por algo que pode (ou não) caracterizá-los ou caricaturá-los. As impressões aqui registradas são baseadas em acontecimentos vividos nos últimos 10 meses em que estou morando na Alemanha.

Só pra vocês terem uma ideia de como acho delicado abordar esse tipo de assunto, fazia 5 meses que esse texto estava nos meus rascunhos. Já adiei publicá-lo diversas vezes. Revisei, li e reli, alterei um parágrafo ou outro e acabei decidindo postar assim mesmo.

Tentei ao máximo não generalizar, buscando evitar os estereótipos ou dizer que o alemão (ou a Alemanha) é isso ou aquilo. Até porque, a minha impressão pode (e deve) ser diferente da do outro. Minha experiência jamais será como a sua em qualquer lugar do mundo. E essa é a beleza da vida… as pessoas não são iguais, não agem da mesma maneira e muito menos pensam da mesma forma. Certamente, as impressões de um lugar vão variar de um indivíduo para outro a partir da experiência de cada um.

Estereóti o quê?

Estereotipar: verbo transitivo. Imprimir com estereótipos. [Figurado] Reduzir a fórmulas estereotipadas; esquematizar, tipificar: estereotipar personagens.

Estereótipo: substantivo masculino. Do grego, stereos e typos. Padrão estabelecido pelo senso comum e baseado na ausência de conhecimento sobre o assunto em questão. Concepção baseada em ideias preconcebidas sobre algo ou alguém, sem o seu conhecimento real, geralmente de cunho preconceituoso ou repleta de afirmações gerais e inverdades.

(Fonte: Dicionário Online de Português)

Inevitavelmente, alguns aspectos foram comparados à Suíça, país em que vivia antes de me mudar pra cá. Pra quem não leu, clique aqui pra saber como recebi a notícia de que viria morar na Alemanha.

E mais uma vez quero destacar que esse texto não tem intenção de ofender ninguém. Longe de mim dizer o que é certo ou o que é errado. Cultura é cultura e, se aqui estou, eu é que tenho que me adequar aos hábitos e costumes locais. E se não quero agir como eles, devo, no mínimo, respeitar. Que fique claro, mais uma vez, que esses pontos são ligados à minha experiência até aqui, certo? Portanto, vamos a eles.

Sobre burocracias

Sim, a Alemanha é um país burocrático e isso não é um estereótipo. Nem um defeito. Ao contrário, acho que a organização que o país conquistou vem dos processos burocráticos aos quais ele submete quem aqui quer viver. Para tudo é necessário um documento, um papel, uma foto, uma assinatura… para se ter uma ideia, nossa mudança só pôde entrar na Alemanha depois que pegamos as chaves da nossa casa. Isso porque a importação de móveis usados só é permitida se o destino for um endereço residencial. Então nossas coisas não podiam ir para um depósito até que tivéssemos nossa casa. Ficou tudo na Suíça até finalmente termos o nosso endereço e as chaves em mãos.

E tá aí outra burocracia: alugar um imóvel na Alemanha também não é tão simples. Você visita o local e, caso goste, manifesta o interesse. Aí o dono é que vai decidir se quer ou não alugar para você. Houve uma casa que a empresa que nos ajudava no processo de locação não conseguiu nem agendar a visita para nós pelo fato de sermos expatriados. O dono disse que queria um contrato mais duradouro, então nem perderia tempo mostrando pra quem vai morar no máximo 5 anos. Ok, escolha dele. Perdeu ótimos inquilinos rsrs. Mas isso mostra um pouco de como as coisas funcionam por aqui.

Outro ponto bem burocrático foi a inscrição da Giovanna na Kita (como são chamadas as creches na Alemanha), só que isso eu vou contar em um outro post. Mas adianto que nunca havíamos preenchido e assinado tantos papéis na vida. Nem quando financiamos apartamento pela Caixa Econômica Federal, pra se ter uma ideia. Exageros à parte, reserva em kita e kindergarten é outro capítulo que conto mais adiante. E pensem num processo burocrático!

Portanto, se você está pensando em se mudar para a Alemanha, prepare-se para enfrentar certas burocracias necessárias para se viver aqui. Faz parte e, no final das contas, compensa a trabalheira.

Vida na Alemanha

Além das burocracias enfrentadas inicialmente, quando se muda para um país, você começa a construir uma relação com uma série de novidades. Desde ir ao supermercado a separar o lixo, tudo é novo, tudo é diferente daquilo que você estava acostumado. A começar pela língua, certo? Estudiosa de línguas que sou (tenho graduação em letras, para quem não sabe), considero esse o fator mais importante de uma cultura. É através da língua que você vai conhecer as peculiaridades de uma nação.

Em 10 meses de vida na Alemanha, só agora comecei a estudar alemão, e sei que isso vai me ajudar a entender melhor a cultura e os costumes daqui. Mesmo assim, vou listar a partir de agora a minha relação com alguns aspectos que me deparei no país nesses últimos 10 meses.

Os parques

Se tem uma coisa que me surpreendeu aqui na Alemanha foi a quantidade de parques e parquinhos. Todo bairro tem, no mínimo, um parquinho. E todos têm uma estrutura bacana, são bem cuidados e arborizados. Um convite a levar as crianças pra brincar. O contato com a natureza parece ser muito importante para os alemães, o que acho muito positivo. Fiquei surpresa com o quanto Frankfurt, mesmo sendo um grande centro urbano, é uma cidade arborizada que conta com deliciosos parques. Ponto pra Alemanha no quesito parques, parquinhos e afins.

Ah, e têm ainda os Biergartens, que são aqueles parques voltados pro pessoal beber cerveja. No verão aquilo fica uma maravilha!

As festas alemãs

Desde que vim pra Alemanha na Oktoberfest de 2014, fiquei impressionada com a estrutura da festa. Visitamos a mais famosa, que é a de Munique. E a Oktober é a tradução perfeita de como a Alemanha é um país festeiro. Afinal, a festa tornou-se mundialmente conhecida e ainda inspira edições em outros cantos mundo afora. No entanto, vivendo aqui na Alemanha, vi que não é só de Oktoberfest que vive o alemão. Festas acontecem por aqui com bastante frequência.

E não são festinhas pequenas não. São festas com estruturas admiráveis. Quando chegamos, eram as inúmeras festas de verão. Barraquinhas, cervejas e comidas típicas para todo lado. Chegamos a ir em algumas quando ainda estávamos vivendo no apartamento temporário. Depois vieram as festas de final de verão. Em seguida, a Oktoberfest que acontece por toda a Alemanha e em diversos formatos. Tem até uma medieval aqui na região. Nós visitamos só a de Stuttgart (vai sair post, prometo!), mas para 2018 quero me organizar para conhecer outras.

Em dezembro, a Alemanha arrasa com os famosos Mercados de Natal (acho que posso dizer que são os mais famosos da Europa). Visitei alguns e fiquei extremamente encantada com tudo. Então, pra quem gosta de festa, a Alemanha é o lugar, e em qualquer época do ano. E isso foi algo que me deixou muito feliz.

Sobre o trânsito

As rodovias alemãs são famosas por não terem limite de velocidade, a não ser que alguma placa notifique o contrário. No entanto, onde há marcação de limite, é bom respeitar, pois os radares estão pra todo lado e as multas podem fazer você perder a habilitação. Nas cidades, um ponto que observei é que as pessoas não têm muita paciência não. Talvez se comparar ao Brasil, estou sendo chata. Mas minha comparação aqui é com a Suíça. Aqui, por qualquer motivo, você leva uma buzinada no trânsito.

Certo dia o cara buzinou pra mim porque mudei de faixa. Não, eu não fechei o sujeito. E sim, eu sinalizei pra avisar que ia mudar de faixa. Numa outra ocasião, o cara desceu do carro pra indicar que eu deveria mudar de faixa pra deixar espaço pra ele passar. Ok, nesse caso eu fechei uma parte do cruzamento, mas foi devido ao trânsito inesperado. E o meu carro não era o único no cruzamento. O que me chamou a atenção nessa situação foi a impaciência. Era uma rua em obras e por isso o trânsito um tanto quanto caótico. Mas logo a fila andaria e ele teria como passar.

Outra coisa que é inevitável comparar: na Suíça, as pessoas sinalizam agradecendo que você parou na faixa de pedestres. Ok, é obrigação parar, mas o agradecimento é ensinado nas escolas (as crianças vão pras ruas pra aprender atravessar na faixa de pedestre e agradecer) e auto-escolas. Convivialité é o termo em francês. Um gesto que mostra que eu reconheço o seu respeito ao meu direito. Aqui, a convivialité parece não ter importância. Nunca recebi nenhum agradecimento por parar para algum pedestre. E, quando sou pedestre e agradeço (força do hábito), não recebo nenhum gesto em resposta.

*Informação

Sobre a habilitação na Alemanha, nós não tivemos que passar por nenhum exame, pois fizemos isso na Suíça. Então pudemos entrar em um processo de troca de documentos. Para quem vem do Brasil, a habilitação é válida por um ano. Se você vem como turista, é tranquilo dirigir caso precise alugar carro. Se o caso é de mudança, no prazo de um ano será necessário dar entrada ao processo de habilitação local. Não importa se você já tem a habilitação brasileira. As regras de trânsito são diferentes e você vai ter que se submeter a um exame (olha a burocracia aí de novo). Fizemos o processo na Suíça e foi até tranquilo. Pelo menos por lá, o que eles querem mesmo é analisar sua conduta no trânsito.

Sobre convivência

Eis aqui um ponto que eu não queria generalizar, mas a simpatia não parece ser uma característica comum ao alemão. Nesses 10 meses vivendo aqui, a sensação que tenho é que a maioria das pessoas está sempre de mau humor. Talvez seja porque na Suíça francesa o povo seja muito cordial e espalhe seu “Bonjour” pra todo lado. Aqui, as vezes que tentei um “Guten Tag” em um elevador, por exemplo, não tive resposta ou a resposta foi ríspida e sem um sorriso sequer.

Na minha vizinhança, as pessoas mal se cumprimentam. Conheço a vizinha que mora ao lado, e só. Os demais, mesmo vendo-os pela manhã ou quando acontece de estarmos limpando a neve na calçada ao mesmo tempo, não sai sequer um “Hallo”. Cada um cuida da sua vida e pronto. Talvez por eu não falar alemão essa aproximação seja um pouco mais complicada, mas enfim…

E é claro que há exceções. Na creche da Giovanna, por exemplo, as professoras são uma simpatia só! Nas poucas vezes que me encontrei com pais/mães dos coleguinhas de turma dela, a maioria foi simpática e bastante agradável (uma mãe veio, inclusive, se oferecer para fazer as traduções para o inglês durante a reunião para me ajudar, vejam que fofa!). Por isso digo que é complicado generalizar… nem sempre a gente cruza com as pessoas nos seus melhores dias, não é mesmo? Isso serve pro pessoal “estressado” no trânsito também, vai ver foi uma questão de dia ruim… vai saber…

Senta que lá vem história

Dia bom ou dia ruim, tive dois fatos que acho que merecem ser contados. O primeiro, tínhamos acabado de nos mudar para o nosso bairro. O segundo foi esses dias, em uma cafeteria. Vamos a eles.

Eu estava saindo do supermercado e a Giovanna abriu o berreiro: queria um kinder ovo (odeio o fato dos supermercados colocarem o kinder ovo bem ao pé do caixa) e eu não comprei. Ela sentou no carro ainda chorando. Quando fechei a porta, uma mulher estava parada atrás de mim (de onde ela surgiu?). Perguntou o que estava acontecendo e por que ela estava chorando. Oi? Crianças choram, a senhora sabia? E antes que falem, não foi uma pergunta doce do tipo “Oh, pobrezinha, o que foi com ela?” mas uma pergunta que soou mais como “por que esse escândalo?”. Bem, eu mantive a linha, #fizafina e respondi educadamente, mas que deu vontade de mandar ela cuidar da própria vida, ah, isso deu.

O que me disseram é que as pessoas aqui vigiam a postura dos pais com suas crianças. Pra ver se existe algum mau trato. Mas ali, na boa, não cabia esse tipo de questionamento. Eu estava super calma e em momento algum perdi a paciência com a Giovanna (o que pode perfeirtamente acontecer, sou mãe, humana, e estou longe de ser perfeita). Acho que tem mais a ver com tolerância do que com preocupação.

E aí vamos ao segundo fato.

Estávamos em uma cafeteria: uma amiga e seu filho, Giovanna e eu. As crianças brincavam ao nosso lado enquano conversávamos. Eis que, num determinado momento, uma senhora sentada em uma outra mesa, chama a atenção da Giovanna, que tentava se sentar no banco. Como não falo alemão (nessas horas agradeço por isso), não entendi o que a senhora disse e Giovanna também pareceu não se importar. Mas minha amiga que estava junto disse que a senhora foi um tanto grosseira e impaciente com os pequenos, desnecessariamente. Eles não estavam gritando, nem incomodando ninguém. Questão de tolerância mesmo.

Essas foram duas situações mais bizarras. De um modo geral, o pessoal costuma ser bem amigável com as crianças aqui. Inclusive, é muito comum em shoppings, lojas e restaurantes, os funcionários oferecerem bala ou algum outro doce para seu filho. Giovanna aprendeu a gostar de Haribo (aquelas gominhas de ursinho) assim.

Pra concluir

Bem, esses foram os aspectos que mais me chamaram a atenção nesse começo de vida alemã. Claro que tem mais, mas como o post já ficou gigante, deixo pra abordar outros temas como lixo, supermercado e creche nos próximos posts. Que venham os meses seguintes, as novas impressões e as mudanças de conceitos. Tenho certeza de que vou aprender muito com a Alemanha, com seu povo, sua cultura. Se vou aprender a língua? Bom, isso é assunto pra outro post… O curso eu comecei. Bis bald!

EM TEMPO: esse texto foi escrito com todo respeito e não tem intuito (de novo) de ofender ninguém. Comentários são muito bem-vindos, desde que escritos com esse mesmo respeito. Não precisa concordar comigo, mas espero o mínimo de educação de quem se der ao trabalho de comentar aqui. Vou adorar ler sobre experiências diferentes. Mas mensagens grosseiras serão ignoradas, ok? Obrigada, de nada! 🙂

7 comentarios en “Vida Alemã: algumas impressões iniciais

  1. Maracy Monteiro Viana

    Amiga…. sobre as grosserias alemãs tenho um livro. Hahahaha
    E é bem difícil, pra mim, discutir de igual pra igual. Arghhh… Um dia…
    E bora aproveitar as festas e deixar alemão chato pra lá. Beijos

    Responder
    1. Fernanda Diniz Autor

      Ai, amiga! Obrigada pelo apoio! E se pra você é difícil, imagine pra mim? kkkkkk
      Mas é isso aí, bora aproveitar as festas que são boas demais! Beijão!

      Responder
  2. Marisa Barbosa

    Oi Fernanda, tdo bem!
    Eu morei 8 anos em Basel e estou morando a 8 meses, em Budapeste.
    Se servir de consolo, as coisas por aqui são parecidas com as da Alemanha. No prédio onde moramos, tem aptos residenciais e comerciais, mas já conseguimos identificar quem são os outros moradores e também acontece de darmos bom dia e nem olharem na nossa cara e por 2 vezes, pessoas se recusaram a subir no elevador junto com o meu marido. Mas a gnt segue dando bom dia, segurando a porta do elevador p/ as pessoas entrarem…
    Bjs

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    1. Fernanda Diniz Autor

      Oi Marisa! Primeiramente, obrigada pela visita! Chato esse comportamento das pessoas, né? Mas vocês estão certíssimos em seguir sendo gentis. Não podemos deixar que eles mudem nosso jeito de ser e agir, né? Gentileza gera gentileza e vocês estão de parabéns por não se deixarem abalar! E assim vamos levando a vida de expatriados… Beijos e fiquem com Deus!

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  3. Gabriela

    Oi! Estou morando na Alemanha há 4 messes fazendo minha pós graduação. Até o momento não tive um dia feliz, as pessoas me tratam super mal e espalham caras feias pelas ruas. Como jovem sinto muito em ter escolhido este lugar para morar e ter investido meu dinheiro na universidade e demais gastos.
    No mais, por morar em uma cidade pequena sinto que as pessoas me tratam diferente por não ser alemã. Isso não é apenas uma impressão, de fato varias imobiliárias não alugaram apartamento para mim por não ser alemã e não falar o idioma mesmo comprovando a minha condição financeira e vínculo com a faculdade.
    Terminarei meus estudos aqui pois o Masters tem a duração de um ano e não compensaria voltar após tanto sacrifício financeiro e emocional. Mas certamente se você pensa em mudar de país risque a Alemanha do mapa. Já morei por mais de 3 anos nos Estados Unidos e minha vida era muito mais feliz.

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  4. Ester

    Ola eu tambem vivo na Alemanha, e esse país não me agradou em nada pessoas antipaticas,sem sal mal dispostas,como não falo a língua ainda pouco me importo com elas..vivi 3 meses em Portugal e la eu era bem feliz..

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