Gravidez na Suíça: a aproximação do parto

A Giovanna estava prevista para nascer até o dia 13 de julho. Quando se espera pelo parto normal, essa data final é apenas uma previsão mesmo. Ainda mais se tratando de um parto normal na Suíça. Como já relatei, fiz meu pré-natal com um médico particular até a 35a semana e, na 36a, fui encaminhada para as consultas na maternidade onde escolhi dar a luz. Na minha cabeça, a partir daí, eu teria consultas semanais até que a Giovanna resolvesse nascer (afinal, no Brasil é assim, não é mesmo?). Qual foi minha surpresa quando cheguei na consulta da 36a semana e, depois de ser examinada, a orientação foi para marcar meu retorno para o dia 13/07, dia que iniciaria a 40a semana. A sage-femme (esse é o nome dado às enfermeiras especializadas em partos por aqui) me explicou que, como era uma gravidez que corria tudo bem, não havia necessidade de me examinarem toda semana. Caso eu sentisse algo ou percebesse alguma anormalidade, deveria ligar para a emergência da maternidade para solicitar uma consulta. Caso contrário, até dia 13. Bem, foi um pouco frustrante mas ao mesmo tempo tranquilizador. Frustrante porque na minha cabeça eu teria um acompanhamento semanal seguido de ecografia e tudo o que tinha direito. E só Deus sabe como eu me deliciava em ver a Giovanna, ouvir seus batimentos acelerados… Vivia isso uma vez por mês e a ideia de poder viver uma vez por semana até a data de seu nascimento era por si só um deleite. Mas… aqui na Suíça não é bem assim. E aí veio a parte tranquilizadora: se eles estavam me “liberando” dessas consultas semanais era porque de fato estava tudo bem comigo e com minha filhota. Afinal, aqui eles são extremamente cuidadosos no quesito saúde. Então saí de lá com esse misto de sentimentos e a certeza de que voltaria antes do dia 13. Como eu estava enganada! Vivi o nono mês de gestação como se ainda estivesse no sétimo: nada de dores, nada de contrações, tudo na mais perfeita normalidade. Minha mãe chegou do Brasil no dia 1o de julho e tive tempo de terminar o quarto da Giovanna (o kit berço e outros apetrechos vieram com a vovó), tirar muitas fotos do barrigão ao lado da mamãe e da vovó (como a foto destaque desse post), curtir cada minuto dessa reta final. Claro que havia uma certa ansiedade e um sentimento de “nasce logo, Giovanna”, mas tentei curtir e aproveitar os momentos de espera como fiz durante toda a gestação. E dia 13 lá estava eu novamente na maternidade com meu barrigão e a dúvida de quando seria o grande dia. Bem, aqui na Suíça, assim como em outros países europeus, esperar até a semana 40 não é nada. É perfeitamente normal um bebê nascer de 42 semanas. Isso nos assustava um pouco, pois minha mãe tinha data para voltar ao Brasil e, caso a Giovanna demorasse tanto, eu pouco aproveitaria a ajuda essencial dela nos primeiros dias. Mas ao mesmo tempo eu queria esperar o tempo dela, o tempo certo e determinado pela natureza para que ela viesse ao mundo. Não era só uma questão de estar nos formatos do país. Era uma questão minha mesmo, de querer o parto normal no dia que ele viesse. Tanto que rejeitei a proposta do hospital de marcar uma provocação para a semana seguinte. Sim, eles esperam até a semana 42 mas, caso a mãe queira, esteja se sentindo desconfortável, ou caso eles vejam necessidade, é feita uma provocação para o parto normal (a cesárea só vem mesmo em último caso). Essa provocação nada mais é que o uso de medicamentos e hormônios (ocitocina) para induzir as contrações e o início do trabalho de parto. E eu não estava nem um pouco interessada nesse procedimento, mesmo sob o olhar de reprimenda do marido quando eu disse à sage-femme que esperaria mais uma semana pelo menos (o que prolongava o parto para o dia 20 de julho ou depois). Detalhe: minha mãe voltaria ao Brasil no dia 8 de agosto… por isso o marido já queria que eu topasse logo a indução e pronto. Mas no meu coração eu sabia que aquele procedimento não seria necessário e finquei o pé dizendo que esperaria até o dia 20. Caso ela não nascesse até lá, veríamos o que fazer.

Bem, tudo continuou normal, eu não sentia absolutamente NADA! O verão suíço de 2015 foi um dos melhores que pegamos, mas eu sentia tanto calor e com aquele barrigão… Continuei aproveitando para tirar fotos e tinha disposição até pra limpar a casa. E, mesmo assim, nada da Giovanna dar o ar da graça. Compramos um ventilador para aliviar o calor e fizemos até aposta: quem chegaria primeiro, a Giovanna ou o ventilador? (E não é que foi o ventilador?!)

Na quinta-feira (16/07) à noite comecei a sentir umas pontadas na barriga, mas eram umas fisgadinhas bem leves, nada demais. Minha mãe tinha me falado que eu saberia identificar, que as contrações pareciam cólicas menstruais com muito mais força. Uma outra amiga disse que se assemelhava a um tigre arranhando as costas. E não, eu não sentia nada disso. Doía, mas era muito leve. Eram 23 horas quando fomos deitar e eu comentei com o marido: acho que está começando, mas não quero alarmar as duas (minha mãe e minha vó estavam na sala vendo TV). Na semana anterior, exatamente na quinta-feira, eu tinha tido dores semelhantes e minha mãe acabou mandando mensagem para a família no Brasil. Pronto: foi o suficiente para passarmos o final de semana respondendo mensagens que não, não tinha chegado a hora. Naquele dia, então, resolvi ficar quieta para o caso de ser um alarme falso. Meia hora se passou e eu não consegui dormir, as fisgadinhas ainda constantes. Tinha baixado um app no celular para controlar as contrações e fui pra sala, celular em mãos. Falei pra minha mãe e pedi que não falasse nada no Brasil: vamos esperar pra ver se evolui. Por duas vezes, o app me mandou ir para o hospital, mas eu sabia que ainda não tinha chegado a hora. Era mais ou menos 1h da manhã quando eu já não sentia mais nada. Falei pra minha mãe: quer saber? Eu vou é dormir! Quem sabe minha bolsa rompe enquanto durmo? E se a dor evoluir, certamente vou acordar. E fui. Acordei às 7h com o marido saindo pra trabalhar. Não, eu não sentia mais nada. Dormi de novo até quase 10h, quando acordei com minha mãe se aproximando do meu quarto: “E aí, nada?” Nada. A única mudança que sentia era que Giovanna se movimentava menos. Quando fui ao banheiro, notei a saída de um líquido viscoso. Não tinha sangue, mas aquilo me alertou: poderia ser o tampão (e era!). Resolvi então ligar na maternidade e relatar o que estava sentindo desde a noite anterior. Como disse que o bebê não estava se mexendo tanto, pediram para que eu fosse até lá para um controle, afinal, eu vivia uma gravidez que já tinha passado da data limite (aqui eles falam em “terme”). Fomos então “de mala e cuia” para o hospital.Chegando lá, fui encaminhada para exames. Depois de medirem pressão e me pedirem um exame de urina, colocaram dois aparelhos na minha barriga: um para medir as contrações e outro para verificar os batimentos cardíacos da Giovanna. Fiquei uma hora com esses dois aparelhos e, algumas vezes, sentia pontadas mais fortes na barriga, porém nenhuma se parecia com as descrições que eu havia recebido de uma contração.

Exame de controle

Dois aparelhos em minha barriga: um medindo as contrações, outro controlando os batimentos cardíacos da Giovanna.

Ao final deste exame, a enfermeira me disse que eu podia voltar pra casa, pois estava tudo normal comigo e com a bebê. Disse que eu havia perdido sim o tampão e que as dores que eu sentia caracterizavam um pré-trabalho de parto, mas que isso poderia levar dias ou apenas horas, não era possível prever. E então ela me deu a dica fundamental: se eu sentisse que as dores tinham ficado intensas e observasse uma certa regularidade nos intervalos entre uma e outra (a cada 7 minutos, por exemplo), eu deveria observar essa regularidade e cronometrar por pelo menos duas horas. Caso ela permanecesse, aí sim eu poderia entrar em contato com a maternidade, pois significaria o início do trabalho de parto. Voltamos para casa, mas não sem antes passarmos por uma médica que fez uma ecografia e verificou que tudo estava ótimo com a Giovanna: posição, líquido amniótico ok e cordão umbilical no devido lugar (eu tinha uma certa neura de faltar líquido amniótico ou dela se enrolar no cordão umbilical – coisas que a gente lê e histórias que a gente ouve por aí). Como graças a Deus estava tudo certo, voltamos pra casa (confesso que um pouco frustrados) com a dúvida de quando o trabalho de parto viria de fato. Mal sabíamos que não demoraria nadica de nada… (Continua no próximo post).

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