Dois dias em Veneza: segundo dia

E vamos seguir nossa viagem pela Itália. Meu segundo dia em Veneza foi, na verdade, também o último, pelo menos por enquanto. Explico: como ficamos hospedados em Padova, o último dia do feriado suíço, que era na segunda, optamos por não ir para Veneza, pois queríamos conhecer a Basílica de Santo Antônio e também dar uma passada por Verona. Vou contar todos os detalhes dessa segunda-feira mais adiante, mas hoje vou relatar o domingo, nossa despedida de Veneza.

Chegamos cedo na estação Veneza Santa Lucia e, dessa vez, não atravessamos aquela primeira ponte à esquerda, mas seguimos reto, pois queríamos visitar o bairro judeu de Veneza, o primeiro na história denominado Gueto. Tenho um interesse muito especial por registros da Segunda Guerra Mundial. Depois que conheci Berlim e também a casa de Anne Frank, em Amsterdam, fiquei mais interessada ainda. Então quando li que o Gueto de Veneza foi o primeiro a ser assim chamado, não tive dúvidas: incluí esse bairro veneziano em nosso roteiro.

No caminho, fizemos uma parada muito interessante que não estava no roteiro, mas me deixou muito feliz. Como já mencionei, entrávamos em todas as igrejas possíveis, pois cada Igreja na Itália é, além de templo de oração, um magnífico museu com obras de arte de cair o queixo. Chegamos a uma praça e avistei uma Igreja. Na porta, um quadro de Santa Lucia (para nós, brasileiros, Santa Luzia) e a informação de que ali, naquela Igreja, está o corpo da jovem Santa para veneração. Não tivemos dúvidas: entramos e a emoção foi enorme.

A Igreja é linda e conhecer mais a história da Santa conhecida como protetora dos olhos foi um dos momentos mais emocionantes da viagem. Aproveitei para rezar pela minha família, meus amigos, lembrar-me de pessoas queridas… Um momento inesquecível de oração. Para quem quiser conhecer mais sobre Santa Lucia, o link da wikipedia está bem completo. Como não vimos advertência nenhuma em relação a fotos, aproveitamos para tirar algumas, inclusive do interior da igreja.

Saindo dali, andamos e andamos, passamos por ruelas, canais, pontes e mais pontes… e andamos mais… e erramos muito, nos perdemos mais ainda e quase desistimos de passar pelo tão programado Gueto. Quando estávamos quase desistindo, avistamos uma ponte com a placa que sinalizava o Gueto Novo. Momento wikipedia: a palavra veneziana ‘ghetto’ era o nome de uma ilha onde existia uma fundição que fabricava peças para a artilharia da cidade. Mais tarde, quando os judeus de Veneza foram obrigados a viver nesta ilha, fugindo de perseguições, o local passou a designar uma zona isolada onde vivia um povo confinado. Posteriormente, qualquer território judeu pelo mundo recebeu esse nome.

O local é dividido em Gheto Novo e Gheto Vechio e é marcado pelo sofrimento do povo. Há uma parede com pedras que retratam o sofrimento judeu durante esse período. As antigas sinagogas também são identificadas através de coroas de flores que homenageiam rabinos, alguns deles mortos durante a guerra. O lugar respira história e arrepia a alma pensar em como o povo judeu sofreu ali, onde hoje passamos e passeamos tranquilamente. Cada construção, com suas paredes descascadas e tintas gastas, conta parte desse período trágico da história mundial. Para quem tiver interesse em saber mais sobre os guetos, achei em um site várias informações interessantes sobre A Vida nos Guetos, vale acessar.


Primeiro destino da manhã cumprido, paramos em um restaurante super charmosinho que fica no caminho da estação. Afinal, ainda não tínhamos comido a verdadeira pizza italiana e esse foi, portanto, o nosso almoço. Um bom vinho para acompanhar e a conta mais barata que o Florian no dia anterior. Perfeito! Seguimos então em busca de uma das igrejas que tentamos ver no dia anterior: Santa Maria dei Frari. Foi a única das 5 listadas no meu roteiro que conseguimos ir, mas valeu muito a pena. Como já disse, as igrejas na Itália têm um quê artístico muito peculiar. Essa, em especial, é simplesmente DESLUMBRANTE. Ela é tão magnífica que fotos não são permitidas (como na maioria das igrejas em Veneza) e a entrada é paga: 3 euros – preço insignificante para apreciar tanta beleza!

Pinturas belíssimas, como “A Madona e o menino”, de Bellini, na Capela do Santíssimo, e “A Assunção”, de Tiziano, no altar principal, fazem os nossos olhos brilharem e fixarem-se naquelas imagens. Sinceramente me perguntei se já havia visto artes tão perfeitas assim! Aquela mesma sensação que mencionei no post dos Fogos de Genève cabe perfeitamente aqui (vou repetir a história, para quem não se lembra): em uma de minhas cenas preferidas do filme Gênio Indomável, o psicanalista vivido por Robin Williams diz ao personagem de Matt Damon (Will) algo sobre a Capela Sistina: “Então se eu te perguntasse sobre arte, provavelmente você me daria o resumo de todo livro de arte já escrito. Michelangelo, você sabe muito sobre ele. Trabalho, aspirações políticas, ele e o papa, orientação sexual, a coisa toda, certo? Mas aposto que você não sabe qual é o cheiro da Capela Sistina. Você nunca ficou ali e encarou aquele teto lindo; eu já.” Pois é, eu fiquei ali e encarei aquele teto e aquelas paredes lindíssimas, que não são da Capela Sistina, mas imagino que não deixem nada a desejar.

Outro ponto alto nessa Igreja é uma pirâmide em mármore branco onde dizem estar o coração do escultor Antônio Canova. Não me perguntem o que o pobre homem fez para ter ali seu coração, mas é também uma perfeita obra de arte. Como as fotos não são permitidas, deixo uma que tiramos do lado de fora da Santa Maria dei Frari, visita recomendadíssima pra quem for a Veneza.

7929150

Saímos dali novamente em direção à Piazza San Marco. Destino: Basílica San Marco e Palácio Ducal (ou Ducale).  Andamos bastante, nos perdemos (de novo!) em algumas ruas, nos deparamos com alguns caminhos ainda não explorados e, mesmo com as erradas, a caminhada valeu novamente. Volto a dizer: andar por Veneza é um momento único e não tem preço. Nem sempre é possível visitar tudo, mas caminhar pelas ruas venezianas é como cumprir a missão da viagem.

Chegando à Piazza San Marco, a fila para entrar na Basílica dava voltas (assim como no primeiro dia). Já passava das 15 horas e decidimos, então, entrar primeiro no Ducale, que fica bem ao lado. Sabíamos que era uma visita demorada, mas não queríamos perder. É dentro do palácio que está a Ponte dos Suspiros que, apesar do nome, não tem nada de romântica. A ponte liga o palácio à prisão. Era através dela que os condenados, julgados no Palácio, eram conduzidos à prisão. Ali, naquelas pequenas frestas, eles tinham a última visão da cidade. Claro que fizemos o percurso e conhecemos as salas das prisões: frias, pequenas, todas em madeira e pedras. Impossível não imaginar como viviam os pobres condenados ali, principalmente no inverno. Fato curioso: em 1756, Casanova conseguiu escapar dali atirando-se em uma gôndola que passava no pequeno canal (história contada pelo nosso gondoleiro e mais ou menos confirmada pelo wikipedia, link no nome acima).

Tudo no palácio é maravilhoso: os aposentos do duque e as salas institucionais são ornamentadas com tapeçarias de Tiziano, Veronese, Tiepolo e Tintoretto. Tudo de cair o queixo. E é claro, tudo proibido fotografar. A sala de armas tem cada arma histórica que não dá pra descrever. Tudo no Ducale é lindo e paga o ingresso de 8 euros.

Infelizmente, ao sairmos dali já não dava mais tempo de visitarmos a Basílica San Marco: tinha acabado de fechar. Havíamos combinado um encontro com um casal de brasileiros que também estava curtindo o feriado suíço em Veneza. Partimos então para um Happy Hour em excelente companhia. Pena que fomos praticamente expulsos do bar, já que não pedimos comida (aquele chato padrão europeu de “peça comida ou peça a conta”). Mas nesse caso, ficamos indignados com o fato de o restaurante não precisar da nossa mesa: havia movimento no local, mas muitas mesas ainda estavam vazias e sequer havia fila para entrar. Mas faz parte.

Caminhamos os quatro até a estação sob uma chuvinha fresca e agradável. Eles estavam hospedados em Veneza e nos despedimos ao chegarmos perto de Santa Lucia. E ali nos despedimos também de Veneza. Deixamos para jantar em Padova, mas isso vou contar no post sobre Padova. Já adianto que foi um jantar delicioso e de atendimento surpreendente, o que nos deixa mais chateados ainda com os que foram desagradáveis. Mas isso é pauta para o post sobre Padova, certo? Arrivederci, querida Veneza! Eu ainda volto! E para vocês que me acompanham… voilà!

*Viagem realizada entre os dias 13 e 16 de setembro de 2013.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *